Nas minhas memórias de infância, o que me é mais importante, não é um
acontecimento ou um simples momento, mas sim, uma pessoa. Essa pessoa era a
minha avó, uma mulher de altura média, meio loira, sempre com um sorriso enorme
na cara e com uns olhos verdes como nunca mais irei encontrar em ninguém. Ela
era uma pessoa completamente linda e única, e para mim, irá sempre ser. Ela é a
melhor pessoa que conheci até hoje, a melhor pessoa com quem convivi até ao seu
último dia. Estava sempre com ela, não falhava um único dia. Era como uma
segunda mãe, aliás, acho que todas as avós são como uma segunda mãe para cada
um de nós, e se não são, bem... Então tenho mesmo uma avó especial e única.
Tudo o que passei com ela, foi bom, digamos até perfeito. Cada momento com ela
era mágico de certa maneira, ela tornava as coisas más, em coisas boas, ela via
sempre o lado positivo em todos os assuntos, sempre mas sempre. Era ela que
aturava maior parte das minhas birras, era ela que me comprava os brinquedos
todos que queria e quando queria, era ela que me mimava e me ia buscar à
escolinha quando a minha mãe não podia, era ela que lá estava cada vez que a
minha mãe não podia por causa do trabalho. Era pequena, não percebia certas
coisas. Não me apercebia de que a podia perder de um momento para o outro, não
me apercebia de que a ia perder para sempre, sem puder controlar nada. O que me
custou mais, foi a perda dela. Foram os dias mais difíceis para mim, foram os
piores dias que até ali tinham passado, e talvez até hoje. Não percebia como
era possível uma pessoa tão perfeita aos meus olhos, ter ido embora para sempre
do ''Mundo dos Vivos'', como eu dizia na altura. Ainda hoje não consigo aceitar
que a perdi, cada vez que chega perto da data é como se me tirassem um pouco de
mim. Ao fim de tantos anos, não me consigo habituar à ideia de que ela já não
volta, de que ela nunca mais voltará e nunca mais vou puder abraça-la. Tenho um
certo receio de nunca me conseguir habituar à ausência dela. A natureza é tão
injusta para quem não merece... Eu sei que ela não merecia, ela era tão boa
pessoa, todos gostavam dela.
As avós conseguem
realmente ser marcantes na nossa vida, e nas circunstâncias da minha infância é
realmente a minha memória mais doce, que infelizmente já não faz parte do meu dia-a-dia.
Se há anjos na terra, a minha avó era um. Respirava bondade, não sabia não
sorrir, preocupava-se com todos e até com quem não merecia. Era uma lutadora,
uma guerreira. Mal sabia escrever e no entanto a sua sabedoria era enorme. Em
sentimentos, em conselhos, em vida (...) A minha avó tinha uma aparência
frágil, mas uma garra de ferro. Resistiu a choques impiedosos da vida,
infelizmente não resistiu ao último. É tão injusto uma pessoa tão bondosa
partir como ela partiu... Por uma doença tão sei lá... Tão parva. Cancro devia
ter cura imediata para pessoas como ela. Lembro-me de um dia, ter perguntado à
minha mãe porque é que as pessoas morriam e ela explicou-me que as pessoas
ficam velhas e então tinham de ir embora porque estavam a fazer falta no céu e
tinha de haver espaço para os bebés que iam nascer. A minha resposta foi: “Eu
não quero que ninguém morra, eu não quero ninguém no céu, eu quero a avó comigo
para sempre!” … Coisa de criança. Mas a verdade é que ainda hoje dou por mim a
questionar…”Porque a minha avó? Porque a minha?!”. Acho que a morte vai ser
sempre um assunto que nunca vou perceber bem e sinceramente, nem quero
perceber. O que importa é que apesar de ela já cá não estar, eu tenho orgulho
de dizer que sou neta de tal pessoa. Não sou daquelas pessoas que tem vergonha
de dizer que ela é minha avó, muitas pessoas são assim e nunca hei-de entender
o porquê de tal atitude.
Uma Avó é uma mulher que
apesar de ter filhos, gosta dos filhos dos outros. Costumamos dizer que os
velhinhos não fazem nada senão ficar ali quietos, mas eles fazem muito mais do
que isso, eles amam mesmo que não os amem a eles, eles cuidam. Os Avós são as
únicas pessoas grandes que têm sempre tempo, não são tão fracas como dizem.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó ou um avô, e sobretudo
aproveitar todos os momentos que puder com eles, pois eu gostava de estar com a
minha avó e não posso, era tudo o que mais queria, era tudo o que mais
precisava neste momento. Ninguém sabe a falta que ela me faz.